4. Agora, porém, no início do século XXI a situação é bem diferente:

Em muitas regiões semi-áridas do mundo, o crescimento populacional exerce pressão sobre o abastecimento de água para consumo humano, para os animais e para a agricultura.

Projetos de agricultura e água baseados em alto consumo de energia e tecnologias sofisticadas se mostram cada vez menos sustentáveis.

Ao mesmo tempo, tecnologias re-descobertas ou novas e/ou materiais modernos, tem permitido uma nova abordagem na construção de tanques de armazenamento e áreas de captação.

Tudo isso levou a uma nova expansão dos sistemas de captação de água de chuva, tanto em regiões onde já eram usados anteriormente, como em áreas onde até então eram desconhecidos.

Alguns exemplos ilustrarão este ponto:

No Planalto de Loess do Norte e Noroeste da China, onde as precipitações são baixas e as águas subterrâneas são escassas, as pessoas têm feito muitas experiências com a colheita de água de chuva. A agricultura nesta região depende principalmente da chuva como fonte de água. Nos últimos anos, o governo local da província de Gansu colocou em prática o projeto de captação de água de chuva denominado "121": o governo auxiliou cada família a construir uma (1) area de captação de água, dois (2) tanques de armazenamento de água e um (1) lote para plantação de culturas comercializáveis. O projeto solucionou o problema de água potável para 1,3 milhão de pessoas (260.000 famílias) e seus 1,18 milhão de cabeças de animais. Desde 1997, o projeto de captação de água de chuva e irrigação tem tido continuidade, almejando fornecer água para uma irrigação suplementar com um método altamente eficiente de economia de água. A água de chuva é captada nos pátios (Fig. 4) ou em áreas inclinadas guarnecidas com lajes de concreto e armazenada em tanques subterrâneos. É fácil criar a pressão d'água necessária para irrigação por mangueiras ou gotejamento nesta região. Culturas comercializáveis como verduras, ervas medicinais, flores e árvores frutíferas foram plantadas, como também viveiros. Pequenos agricultores da região montanhosa do norte da comarca de Yuzhong se mostram entusiasmados com as verduras plantadas em suas próprias estufas e irrigadas com a água de chuva armazenada nos tanques. É a primeira vez na história que estufas são construídas em uma região a 2.300 m acima do nível do mar e com apenas 300 mm de precipitação anual, para plantar verduras como pimentão, berinjela, tomate e abóbora. A captação de água de chuva tem se tornado uma medida estratégica para o desenvolvimento social e econômico desta região semi-árida.

Na região semi-árida do Brasil, a agricultura foi introduzida somente em um passado recente. A população local não teve oportunidade de fazer experiências com métodos de colheita de água de chuva e menos ainda de aprender a viver e trabalhar em um clima semi-árido. Porém, principalmente devido ao crescimento populacional e à degradação do meio-ambiente, as pessoas agora têm que aprender a viver nesta região rural semi-árida, que se estende sobre 900.000 km2. Uma fonte confiável de água de superfície existe só para uma pequena área às margens do rio São Francisco e as águas subterrâneas no subsolo predominantemente cristalino são escassas e salobras. Por isso a água de chuva é a fonte mais confiável de água para uso humano e animal.

Das experiências do passado e em outras regiões semi-áridas aprendemos, que a sustentabilidade de sistemas de colheita de água é baseada na combinação entre as necessidades básicas dos agricultores, as condições naturais locais e as condições políticas e econômicas predominantes da região.

As pessoas aprendem a viver em uma região semi-árida criando uma nova cultura de convívio com o meio-ambiente e com a água. Esta nova relação com o ambiente e a água tem sido encorajada particularmente pelas muitas organizações de base na região. Por outro lado, ainda estão sendo implantados grandes projetos de irrigação ao longo do rio São Francisco. Grandes companhias estão planejando irrigar extensas áreas para produzir culturas para exportação.

Três tópicos principais foram elaborados visando garantir a sustentabilidade da vida do povo do Nordeste Brasileiro:

- Clima e manejo de água: Como funciona o clima semi-árido e quais as conseqüências que tem para a agricultura? Estabelecer medidas preventivas, como colheita de água de chuva, para dispor de reserva nos períodos secos.
- Criação de animais: Provisões necessárias para a criação de pequenos animais, especialmente ovinos e caprinos, adaptados ao clima semi-árido, através de armazenamento de água e forragens para os meses secos, vermifugação, etc.
- Agricultura baseada em captação de água: Captar a água de escoamento para garantir a colheita mesmo em anos com pouca precipitação; plantar espécies adaptadas à seca, como sorgo; plantar árvores bem resistentes ao clima semi-árido, como o nativo umbuzeiro (Spondias tuberosa).

Em colaboração com a população rural, o problema da água deve ser gerenciado de três maneiras, usando todas as fontes de água disponíveis (subterrânea, de superfície, de chuva). É necessário ter:

a- água potável para cada família (fornecida por cisternas, poços rasos, etc.);
b- água comunitária para lavar, tomar banho e para os animais (fornecida por açudes, caxios (cisternas na rocha de mica com captação do solo), cacimbas de areia (cisternas no leito arenoso dos rios), poços rasos, etc.);
c- água para a agricultura (fornecida por barragens subterrâneas, irrigação de salvação, captação de estradas para plantio de árvores frutíferas, uso de sulcos para o armazenamento de água de chuva in situ = colheita de água entre fileiras);
d- água de emergência para anos de seca (fornecida por poços profundos e barragens menores estrategicamente posicionadas). Este ponto representa uma solução transitória enquanto os pontos a - c ainda não estiverem totalmente implantados.

Os diferentes tipos de captação de água de chuva usados no Nordeste Brasileiro são:

Até agora, entre os tipos diferentes de cisternas usadas para resolver o problema da água potável em áreas rurais do Nordeste, a cisterna de placa de concreto com tela de arame (com 50 cm de largura, 60 cm de comprimento e 3 cm de espessura), fortificada com arame galvanizado de aço Nº 12 e rebocada por dentro e por fora foi a cisterna mais construída. A aderência entre as placas de concreto às vezes é fraca, por isso, a tensão pode causar rachaduras, por onde a água pode vazar.

Por esta razão, a cisterna de concreto com tela de arame (que utiliza uma fôrma durante a primeira fase de construção) provavelmente vai ser o tipo mais usado e apropriado para a região. Uma cisterna desse tipo raramente vaza, e se isso acontecer, poderá ser facilmente consertada. É igualmente adequada também para pequenos e grandes programas de construção de cisternas. (Fig.5)

Uma cisterna subterrânea feita com massa de cal e tijolos relembra os Abanbars do Irã e os Chultuns do México. (Fig. 6)

Em algumas partes da região semi-árida assistimos ao renascimento de caxios, cisternas cavadas manualmente na rocha; trata-se de uma maneira tradicional de captar a água de chuva. Sua água é geralmente usada para os animais, porém, depois de filtrada, pode ser usada também para consumo humano. (Fig.7)

As barragens subterrâneas armazenam a água de escoamento para uso posterior: a parede da barragem é cavada para baixo da superfície do chão em solo raso, em direção ao subsolo cristalino impermeável. Em seguida, uma barreira de terra ou pedras é construída e coberta com uma folha de PVC do lado de onde vem a água para evitar vazamentos. No solo encharcado com água pode-se plantar culturas anuais ou árvores frutíferas. Além disso pode-se colocar quase sempre uma cisterna subterrânea para poder usar a água para consumo humano ou animal ou para irrigação. Ainda nos primeiros meses da estação seca é possível plantar uma segunda vez e até mesmo nos anos de maior seca estas barragens nunca ficam sem água (Fig.8).

As assim chamadas represas / barreiros de salvação ou irrigação suplementar captam água de escoamento de uma grande área natural de captação superficial. Abaixo da represa, as pessoas plantam culturas anuais como feijão, milho ou sorgo. Se há um período seco durante a estação chuvosa, eles podem regar as plantações por gravidade com a água da represa. Se não precisarem da água, poderão plantar novamente durante a estação seca e usa-la para irrigar uma segunda plantação (Fig.9).

A captação in sito entre fileiras aplica-se por exemplo no sulcamento da roça antes ou depois da semeadura, na aração parcial ou nos sulcos com barramento de água. Captação de água de chuva in situ é apropriado para sistemas de plantação existentes e pode ser executada com a ajuda de máquinas ou animais (Fig.10).



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