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Equipe do Irpaa conhece a realidade das famílias da comunidade do Brejo, em Pilão Arcado

Equipe do Irpaa conhece a realidade das famílias da comunidade do Brejo, em Pilão Arcado

Essa não é uma história de um único personagem e sim de vários homens e mulheres que lutam e constroem um Semiárido rico de sabores, saberes e cultura. Muitas dessas histórias são vivenciadas pelos moradores/as das comunidades dos Brejos, no interior de Pilão Arcado, no sertão da Bahia.

Para conhecer a realidade dessas famílias, colaboradores/as do Irpaa visitaram as comunidades dos Brejos. A viagem começou na madrugada dessa última sexta-feira (25). A natureza nos recepcionou com um lindo amanhecer e admiráveis paisagens naturais, porém em seguida o carro “atolou” na areia, primeiro vestígio de que as políticas públicas não chegam de forma correta para as famílias brejeiras.

Com o clarear do dia, as belas paisagens da Caatinga quase intocável pelo ser humano, vai compondo um cenário apaixonante. Logo a imagem das casas de taipas ou palhas, contrastam com as antenas parabólicas instaladas ao lado das moradias. A primeira parada foi na casa do casal de agricultores/as Mateus Lopes Viana e Isabel Ribeiro Lopes, onde o piso da moradia é a continuação do areal, mas foi com um sorriso tímido que S. Mateus recebeu seus visitantes. Homem simples, com um semblante cansado, mas cheio de esperança e fé, sentimento típico do homem do campo.

Foi com a voz suave e rouca que S. Mateus contou que é difícil a vida na “labuta” diária, no cuidado com as cabras, devido a dificuldade de acesso a água e alimentação, que é exclusivamente derivada da Caatinga, onde os animais são criados soltos. “As cabras se alimentam dos raminhos, do pasto ai [na Caatinga], quando elas vem morrer o negócio não tá fácil não... ”, pontuou o agricultor. Hoje a maior parte do sustendo da família é proveniente do auxílio do governo por meio do benefício Bolsa Família, além do plantio do feijão, milho e outros cultivos agrícolas, que, segundo Mateus, tem sido fraco devido ao período de estiagem. Porém, ele ressalta que mesmo nesse período a Caatinga é verde.

O casal demonstra muito cuidado e amor pela terra onde eles nasceram e criaram seus 11 filhos, hoje apenas três moram no Brejo. “A gente não gosta de desprezar a família da gente, a mesma coisa é a terra, não desprezamos nosso cantinho,” afirma a agricultora em relação ao convite dos filhos que moram na sede de Pilão Arcado. É com orgulho que D. Isabel fala que têm duas filhas professoras nas escolas multisseriadas das comunidades vizinhas. De acordo com a agricultora, melhorando as escolas do povoado e garantido o acesso à saúde, a vida na comunidade melhoraria muito, ela pontua ainda que os jovens estão indo embora. “A gente se sente solitária no lugar, porque os mais novos estão indo embora tudo, só os velhos aguentam aqui”, justifica.

Continuando a viagem repletas de cenários bonitos e muita areia na estrada, a próxima parada foi na casa de Renilda Ribeiro Rocha. Logo na chegada, fomos surpreendidos com o carinho e carisma de seu filho e amigos, que recebem o Irpaa botando a benção, tradição passada de geração a geração pelos sertanejos. Um pouco desconfiada, Renilda contou um pouco da sua história, do sonho de construir sua casa e que seu marido aos poucos vem construindo os blocos. “No dia que Deus abençoa e as coisas melhorar, construímos a casa”, diz. No sítio ela e o marido criam cabras, porém em pouca quantidade, pois não tem alimentos e nem água em grande quantidade, além da onça comer os animais. Depois dessa parada, ganhamos novos guias, as crianças que nos acompanhou pela vizinhança, onde as histórias em relação às dificuldades se repetem, mas o sentimento de esperança e pertencimento aquela terra é mais forte do que os obstáculos enfrentados por esse povo guerreiro e acolhedor. Precisávamos seguir caminho, então nos despedimos dos novos amiguinhos e escutou um “vai com Deus” acompanhado de um olhar quase lacrimejando.

O carro continua transitando com dificuldade na estrada, e a paisagem vai se modificando, além da Caatinga, visualizamos frutas nativas, como o caju, buriti, manga e plantio de canas, cultivos responsáveis pela geração de renda de muita das famílias brejeiras. A rapadura, cachaça, doce e azeite de buriti são alguns dos produtos produzidos de forma artesanal pela comunidade. Na maioria das vezes, esses produtos são comercializados apenas na vizinhança ou comprados por atravessadores, por valores abaixo do mercado, devido ao acesso precário das estradas, que dificulta o escoamento da produção. Outro fator é o pouco conhecimento da comunidade em relação às potencialidades e as práticas apropriadas para conviver com as especificidades da região, temáticas infelizmente pouco discutidas nas escolas ou em outros espaços de educação formal.

No período da noite, acompanhamos o tradicional novenário de Nossa Senhora Santana, padroeira do Brejo, tradição que faz parte da cultura popular na comunidade. Um novo amanhecer aguarda mais historias emocionantes de um povo que luta todos os dias por uma qualidade de vida digna, que garanta sua forma tradicional de viver. Nesse novo dia, conhecermos a comunidades onde são produzidas cachaças, rapadura, mel de cana de forma artesanal, com respeito às receitas que são passadas de geração a geração.

Depois de visitar, conversar com diversos moradores dos Brejos, constatamos que a região é repleta de potencialidades e riquezas e muitos desafios para o desenvolvimento do projeto de Assessoria Técnica e Extensão Rural, que começou a ser implementado nas comunidades rurais do município de Pilão Arcado. De acordo com Tiago Pereira, Coordenador Institucional do Irpaa, esse momento de conhecer a realidade e os anseios das famílias é de suma importância para planejar a execução do projeto Ater de forma contextualizada, considerando o cotidiano, especificidades e potencial de cada família.

Diário de Bordo de Gisele Ramos – Comunicação Irpaa

 

 

 


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