Marselha, na França, foi a capital da água durante uma semana

O 6º Fórum Mundial da Água que aconteceu de 12 a 17 de março na cidade de Marselha, na França, teve como tema “Tempo para Soluções”. Marselha é sede de uma das maiores empresas privadas de água do mundo, a Veolia, e no fórum as multinacionais marcaram uma presença forte, que estão dominando o setor e conseguindo sempre mais influência nas órgãos da ONU e do Banco Mundial.

A participação no Fórum foi uma oportunidade para aprender e conhecer o que acontece no setor da água no mundo e outro motivo foi a denúncia. Entre as 2 mil soluções de água apresentadas acessíveis na página do Fórum Mundial na Internet há muitas coisas interessantes, dentre elas a cisterna de alambrado.

Na exposição sobre “Terras Áridas e Oásis” houve cursos diários sobre agroecologia em países com clima seco, onde poderia-se aprender como os nômades do Irã fazem 23 produtos diferentes do leite de cabra e como o povo tuareg constrói cacimbas no Mali. Foi feita uma apresentação sobre a captação de água de chuva, organizado pela cidade de Paris: Territórios, Cidades e Chuva, que teve abertura para experiências do mundo inteiro também da área rural. Uma outra coisa importante foi a publicação do 4º Relatório Mundial da Água feito pela UNESCO, que tem informações importantes de como gerenciar a água em condições de incerteza e de riscos.

Mas houve também oportunidade de denúncia: Quando o Brasil apresentou a necessidade de fazer grandes projetos para resolver os problemas de energia e água, denunciamos os projetos falhos como a transposição da água do Rio São Francisco. A denuncia recebeu apoio de engenheiros das Forças Armadas dos Estados Unidos que disseram que se tivessem na construção dos canais a participação financeira obrigatória dos estados e municípios beneficiados, como acontece em outros países, a transposição nunca teria saído do papel.

O evento politicamente mais importante foi o Fórum Mundial Alternativo da Água que aconteceu na mesma cidade e ao mesmo tempo, onde 3000 participantes refletiram sobre a situação política da água no mundo que está se transformando sempre mais em mercadoria como também a biodiversidade, as florestas, etc. Se pensou como a população pode participar efetivamente da 3ª Conferência sobre o Meio Ambiente no Rio de Janeiro, em junho próximo. A 1ª Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente, 40 anos atrás em Estocolmo,  teve como tema a defesa do meio ambiente, a conferência atual quer comodificar e comercializar o meio ambiente, a água, a biodiversidade por meio da “economia verde”.

Está se levando para frente também a criação de um Tribunal Internacional do Meio Ambiente que pode penalizar sobretudo empresas transnacionais pelos crimes que cometem contra a água e o meio ambiente. Este fórum alternativo terminou com uma grande passeata pelo centro da cidade onde o povo da rua entoou o slogan cantado: “Veolia, Suez, Nestlé, hors de marche, l’eau n’est pás votre proprieté”. (Veolia, Suez, Nestlé, fora do mercado, a água não é a propriedade de vocês).

Com este eventos lembramos que é preciso comemorar o Dia Mundial da Água neste dia 22 de março ativamente como Dia Mundial de Luta pela Água porque a água é um direito de todos e todas e não deve ser apropriado pelo mercado. "No mundo não falta água, falta justiça!"

 

Por João Gnadlinger – IRPAA